Santa Maria deu mais um passo na direção da ressocialização de apenados. A partir de um convênio entre a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e a empresa JEMG Operações e Serviços, 19 presos começaram a trabalhar, nesta terça-feira, natriagem de resíduos em Santa Maria. Os detentos – duas mulheres do Presídio Regional, cinco homens do Instituto Penal e três mulheres e nove homens do Monitoramento Eletrônico (que usam tornozeleira) – farão a separação dos materiais recicláveis (vidro, plástico, papel e metal) que chegam em parte do lixo coletado em 32 cidades da região (leia mais abaixo). Todos cumprem penas ou no regime aberto ou no semiaberto.
Os presos trabalharão nas duas esteiras onde são separados os materiais, junto do aterro sanitário no Bairro Caturrita. Pela atividade, cada apenado receberá pagamento mensal e outros benefícios. Além disso, a cada três dias trabalhados, o preso reduzirá um da pena.
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Nesta terça, no primeiro dia no novo emprego, eles receberam as boas-vindas por parte da equipe da empresa, que entregou Equipamentos de Proteção Individual a cada um dos novos funcionários. Eles também receberam orientações sobre a execução do serviço.
Os presos foram selecionados com o critério de bom comportamento. Já de uniforme e prontos para começar o trabalho, eles estavam empolgados. Um detento de 32 anos que esteve por quatro anos no regime fechado, progrediu para o semiaberto e, atualmente, usa tornozeleira eletrônica comentou sobre a dificuldade de conseguir um emprego:
– Ninguém dá uma oportunidade dessa para nós. Se não são eles a dar esse incentivo, estaríamos parados em casa.
– Infelizmente, as portas ficam fechadas para nós – disse outro detento, que está preso há três anos, já trabalhou com reciclagem e estava fazendo serviços gerais por falta de trabalho fixo.
Uma mulher de 56 anos, que também usa tornozeleira, ficou feliz com a possibilidade:
– Para mim, é maravilhoso trabalhar. Agora, essa oportunidade bateu a nossa porta, graças a Deus.
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Oportunidade para os detentos e vantagem para a empresa que, além de economizar com a mão de obra prisional, pois os presos não têm direito a certos benefícios, cumpre o papel social de ajudar na reinserção.
– Isso engrandece muito a nós e acho que também a vocês que precisam e querem uma oportunidade de trabalho. Todos serão bem-vindos e terão, aqui, o tratamento digno que todos merecem ter, sem distinção nenhuma – disse o diretor da JEMG, Joicemar Ferrari, aos apenados que começaram a trabalhar.
COMO SERÁ O TRABALHO:
– Das 12 mil toneladas de resíduos que são recolhidas por mês e vão para a sede do aterro sanitário no Bairro Caturrita, em Santa Maria, a metade passa pelo processo de triagem. Dessas 6 mil toneladas, 8% (480 toneladas) são de material reciclado – vidro, plástico, papel e metal. O restante vai para o aterro
– A JEMG é santa-mariense. Atua desde 2009 em outras cidades e em Santa Maria desde 1º de agosto do ano passado especificamente na triagem dos materiais recicláveis que vão para o aterro
– Os presos trabalharão nas duas esteiras, onde são separados os materiais
– A jornada é de segunda a sexta-feira, das 13h às 21h, e aos sábados (possivelmente alternados), das 13h às 17h. Os horários serão controlados com cartões-ponto
– Pela atividade, cada um vai receber 75% de um salário mínimo nacional, o equivalente a cerca de R$ 700. Outros 10% (em torno de R$ 93) vão para o Fundo Penitenciário e poderão ser retirados pelo preso após o cumprimento de toda a pena
– Os presos terão transporte, lanche e janta diariamente
– Além disso, a cada três dias trabalhados, o preso reduz um dia da pena
– Eles receberam Equipamentos de Proteção Individual (dois uniformes, com capacetes, camisetas, calças, luvas, óculos, máscaras, mangas e aventais, e ainda seriam entregues botinas)
– A empresa economiza com despesas como férias, 13º salário e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), aos quais os presos não têm direito
– O convênio tem prazo de um ano, renovável conforme interesse do empregador, e prevê até 60 vagas a serem ocupadas gradualmente com apenados
– Nos próximos dias, outros presos devem concluir o processo de abertura de conta salário em banco para se juntarem ao grupo, totalizando 30 pessoas que completarão o quadro de funcionários do turno da tarde
– Ao chegar aos 30 apenados, praticamente a metade do quadro funcional da empresa em Santa Maria, que atualmente é de 37 servidores, será de detentos